“MULHER É SINÔNIMO DE CUIDADO”: A TRAJETÓRIA DE FAMÍLIAS MATRIARCAIS E O DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL INFANTIL

Resumo

A infância e suas primeiras experiências têm recebido grande foco dentro dos estudos psicológicos, especialmente em razão de sua influência sobre o desenvolvimento humano. Winnicott, em seus estudos, sustenta a importância que o ambiente exerce no amadurecimento de um indivíduo, em especial nos primeiros anos de vida, dando grande atenção ao papel da mãe nesse processo. Essa relação interpessoal ganha destaque em diversas discussões que tangem o desenvolvimento infantil e as implicações que uma relação satisfatória da díade proporciona. Contudo, a questão da maternidade se dispõe como um desafio constante na vida de diversas mulheres, estando imersa em conteúdos de ordem social, política, histórica e econômica, dos quais são reforçados estereótipos de gênero a partir de um conluio transgeracional da reprodução desses papéis apreendidos em ambiente familiar. Por vezes, a divisão sexual do trabalho afasta a mulher do convívio social e a posiciona apenas à função de cuidado, onde suas necessidades pessoais são sacrificadas em prol do ambiente familiar, o que é discutido a partir da noção da “ética do feminino”. Nesse contexto, mostra-se importante a discussão sobre a forma em que essa narrativa de espaço do feminino impacta na vida de mulheres de diversas idades, que podem assumir essa função de cuidadora ainda na infância ou adolescência. Para acrescentar a essa discussão, este capítulo analisou  os casos de duas famílias que foram atendidas em uma Unidade Básica de Saúde, pela equipe de Psicologia. O objetivo foi explorar a forma como esse fenômeno social afeta o íntimo dessas mulheres e a maneira como isso se entrelaça com suas relações familiares e a sociedade. Ao analisar famílias com filhas meninas de distintas idades e histórias, faz-se possível compreender as intersecções de uma mesma questão sócio-política, que se encontra com o dinamismo psíquico de diferentes indivíduos. Foi possível tocar o sentido que há entre a ligação mãe e filha, junto à dificuldade em romper este vínculo. Ademais, compreendemos o ser “mãe” como ser um cuidador sensível, habilidade que depende de condições simbólicas e materiais, não se tratando de uma tarefa natural ou exclusiva de mulheres.

DOI: https://doi.org/10.56238/sevened2025.033-002